Mudanças de planos ocorrem a todo o momento na vida pessoal e profissional. Mas quando se planeja e nem sempre se conquista da forma e no tempo esperados, a sensação de estagnação pode vir à tona, levando ao desânimo e insatisfação.
A pandemia levantou diferentes questões aos especialistas: seria hora de abrir o próprio consultório, mudar de cidade, conquistar uma vida com mais qualidade? Nem todas elas puderam ser logo respondidas e executadas. E como a reação às situações adversas é algo muito particular, alguns sentiram o peso da estagnação, enquanto outros usaram a insatisfação como combustível para a mudança.
Olhar psicológico
Martin Seligman, psicólogo americano, descreve no livro Felicidade Autêntica (ed. Objetiva) que a psicologia positiva “leva a sério a esperança de que, caso você se veja preso no estacionamento da vida, com prazeres poucos e efêmeros, raras gratificações e nenhum significado, existe uma saída. Essa saída passa pelos campos do prazer e da gratificação, segue pelos planaltos da força e da virtude e, finalmente, alcança os picos da realização duradoura: significado e propósito”.
A palavra propósito, quando falamos em insatisfação na carreira, causa certo incômodo. A falta de motivação é um indicador de que o significado em exercer determinada função se perdeu há tempos, ou pior, jamais foi encontrado. Seria justamente quando esta “saída” citada por Seligman ainda não foi descoberta.
Mudanças à vista
A pesquisa Demografia Médica no Brasil (CFM/USP), de 2020, mostra que a trajetória laboral e pessoal dos médicos nem sempre é linear e previsível. O estudo analisou três desfechos profissionais: mudança ou reescolha da especialidade médica (17,6%); transição entre trabalhos nos setores público e privado (30,3%); e mudança de endereço profissional e de domicílio (28%).
Mais da metade dos médicos participantes do estudo afirma que passou a ganhar menos nos últimos três anos. Somando os que concordam totalmente com essa frase (38,3%) e os que concordam parcialmente (12,5%), chega-se a 50,8%. Por outro lado, segundo a pesquisa, um terço dos entrevistados (33,2%) discordou totalmente da afirmação de que passou a ganhar menos, enquanto 11% discordaram parcialmente. A soma dos que não perceberam piora na remuneração chega a 44,2%.
E, quando se fala em propósito, alguns números da pesquisa chamam atenção:
- Entre os que trabalham para o SUS, mais da metade avalia que pioraram os serviços oferecidos à população.
- Mais da metade dos médicos concorda que passou a trabalhar mais e que a carga horária aumentou.
- Mesmo queixando-se do conjunto das condições de trabalho, médicos do setor público e privado disseram que estão satisfeitos com a profissão. Apenas 13,4% disseram discordar totalmente.
Como as respostas às insatisfações dependem de muitos fatores, os especialistas irão reagir de diferentes formas à falta de motivação no trabalho. O importante é observar a estagnação e se reconectar ao propósito para, como ilustra Seligman, seguir feliz pelo caminho.